Minha  filha caçula nasceu a 17 de junho de 2002. Linda, meiga, cabeludinha,   bochechudinha,…minha Isabela. E, o mais importante, saudável. Na  gravidez fiquei  enorme, minhas barrigas sempre foram gigantes. Os bebês  nasciam criados, como  minha mãe diz.
Cansada, grávida e com problemas financeiros.Era o quadro. Tivemos que fazer um empréstimo na época para pagar o parto e a cirurgia de laqueadura.
O dia 17 chegou com festa. Jogo do Brasil na Copa. Na parte da manhã, às 9 e 15, mais
precisamente,  nascia Isabela e uma parte da Jô que eu era morria. Bem ali  naquela  mesa de cirugia. Como aconteceu, eu não sei. Mas quando eu acordei já me   senti diferente. o mundo era estranhamente enorme demais para mim. Os  problemas  eram gigantesco e olhar aquela coisinha pequenininha  dependendo de mim só  aumentava o meu desespero. “Eu já tinha dois  filhos, o que acontecia?”eu  pensava. Medo. Meu Deus, que medo horrível  que te assola o cérebro, as emoções,  a alegria, a vida. Tanto medo que  respirar doía. E ninguém sabia. Só eu. E eu  não dizia nada.
Levantava,  tomava banho, dava banho nas crianças, amamentava e sentia  medo. Medo  de não dar conta, sabe? Pensava: caramba, três filhos! Três almas,  três  anjos sob a minha responsabilidade… Desesperador. A vontade que eu  tinha  era de correr. Pegar uma estrada e correr a perder de vista, como  filme Forrest  Gump. Se me perguntassem o porqu~e eu não sabia. Eu só  queria correr. Ir pra  longe… Mas aguentei firme. Achava que era bobeira  da minha cabeça e que logo  passaria. e a vontade de amamentar era tão  grande… Se eu contasse pro médico dos  meus pensamentos eu pararia de  amamentar, então… nada contei. Aguardei uma  melhora que não veio. E  fui, é claro, só piorando. Tendo mais medo, me sentindo  mais sozinha,  parei de arrumar a casa, deixei tudo por conta da empregada e  ficava  deitada olhando pro vazio o tempo todo. Chorava, mas só escondida.   Diferente de muitos relatos que já li, eu não pensava em fazer nada com  as  crianças, nem comigo. “Eu só sentia medo de não dar conta. Dizia nas  orações: Senhor, você confia demais em mim! Não darei conta!”
Depois  de dois meses assim, fui ao ginecologista disposta a contar sobre o   que eu estava sentindo. Não precisei dizer absolutamente nada. Cheguei  abatida e  em prantos. Ele disse: “Que é isso? Nem precisa dizer nada.  Depressão  pós-parto”. Logicamente tomei uma bronca por não dizer antes o  que sentia.  Fiquei ali, parada, sentada, ouvindo longe ele explicar  que isso acontecia com  10% das mulheres (e eu tinha que estar nessa  estatística?), ilustrativamente,  ele me mostrou o que estava  acontecendo com meu cérebro, sobre a falta de  serotonima. Falou ainda  sobre os remédios muito fortes que são utilizados nas  cesarianas  atualmente e que, dependendo da pessoa, essa reação é esperada. O   médico me receitou o remédio para secar o leite e outros para eu sair  daquele  estado.
Fui embora dali triste, mas esperançosa: “Certo, vai passar. O leite vai secar, mas vou melhorar. Tudo vai ficar bem”
Mal sabia eu que ali começaria uma das lutas da minha vida.

